Em 4 arenas, há suspeita de que construtoras combinaram os valores para
levar vantagem na licitação das obras. Caso da Arena Corinthians está sob
sigilo.
Por G1
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Estádios da Copa do Mundo com suspeita de irregularidades (Foto: Secom/Pernambuco Press/GloboEsporte) |
Pelo menos metade dos 12 estádios utilizados na Copa do Mundo de 2014 está envolvida em suspeitas de irregularidades, segundo os delatores da construtora Odebrecht.
A Procuradoria
Geral da República pediu ao relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal, Luiz Fachin, que encaminhe as petições envolvendo as praças de Rio de
Janeiro (Maracanã), Brasília (Mané Garrincha), Recife (Arena Pernambuco),
Fortaleza (Arena Castelão) e Manaus (Arena da Amazônia) a outras instâncias. Um
inquérito relacionado à Arena Corinthians segue em sigilo no STF.
Em 4 estádios,
há relatos de que construtoras combinaram os valores para a licitação, cada uma
levando vantagem em pelo menos uma ocasião.
Veja
as suspeitas de cada um dos estádios:
Maracanã
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Obras no Maracanã (Foto: Alexandre Durão / G1) |
A petição
6.860, que abrange suspeitas sobre a reforma do Maracanã, é baseada nos relatos
de 5 delatores da Odebrecht.
O depoimento do
ex-executivo Benedicto Barbosa da Silva Júnior, responsável pelo chamado
"departamento de propina" da construtora, cita "um pedido de
Sérgio Cabral para a inclusão da (empresa) Delta no consórcio para a realização
das obras", bem como "pagamento de propina" ao ex-governador.
Não há menção a valor.
Outro delator
citado na petição, Marcos Vidigal do Amaral, também apontou "solicitação
de vantagem indevida" por parte de Cabral e "tratativas para
restringir a competitividade da licitação". Mas, novamente, o documento
não detalhou valores.
As delações da
Odebrecht citam que foram pagos cerca de R$ 120 milhões ao
ex-governador Sérgio Cabral e à campanha do governador Luiz Fernando Pezão,
para favorecimento em obras, mas não são apontadas quantias específicas
relacionadas ao Maracanã.
A petição
também engloba suspeita de pagamento de propina para viabilizar o edital da
concessão. O delator João Borba Filho disse que o então secretário do governo, Wilson Carlos,
"avisou-lhe que a Odebrecht precisaria acertar a quantia com o Tribunal de
Contas do Estado, para a liberação do edital" de concessão.
Um terceiro
delator da Odebrecht, Leandro Andrade Azevedo, cita "solicitação de
vantagem indevida por parte de Jonas Lopes de Carvalho", ex-presidente do
TCE do RJ, "no valor de R$ 4 milhões".
O quarto
delator, Luiz Eduardo da Rocha Soares, narrou as negociações para a retirada da
Delta das obras em 2012, mas a petição não detalha como isso se deu.
A reforma do
Maracanã estava orçada em R$ 700 milhões, mas os custos chegaram a R$ 1,05
bilhão. O pedido de investigação foi enviado à Justiça Federal do Rio de
Janeiro.
Arena Corinthians
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Construção da Arena Corinthians (Foto: Letícia Macedo / G1) |
Um inquérito
sobre a construção da Arena Corinthians, onde aconteceu a abertura da Copa, foi
autorizado em novembro passado, pelo então relator da Lava Jato no Supremo, o
ministro Teori Zavascki, e continua sob segredo de Justiça. O alvo é o deputado federal
Andres Sanchez (PT-SP), ex-presidente do Corinthians.
Segundo o site
do STF, a investigação é relacionada a crimes praticados por funcionários
públicos contra a administração em geral e corrupção passiva, sem dar detalhes.
O que se sabe,
até agora, é que o ex-presidente da construtura, Marcelo Odebrecht, disse em
delação que o negócio foi fechado de maneira informal, em um jantar em sua casa,
em 2011.
Segundo o
executivo, estavam presentes o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), e o presidente do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Além
deles, havia pessoas ligadas ao clube, como Sanchez e o ex-jogador Ronaldo.
Odebrecht
afirmou que o governo federal se comprometeu a aprovar um empréstimo de R$ 400
milhões ao Corinthians, para a obra. E que fez um empréstimo extra, de cerca de
R$ 350 milhões, com a anuência da ex-presidente Dilma Rousseff, para conseguir
completar a construção e pagar obrigações que eram da prefeitura.
Inicialmente
projetada em R$ 350 milhões, a construção passou para R$ 820 milhões com a Copa
e acabou custando mais de R$ 1,1 bilhão. Odebrecht disse que acabou
considerando que foi um mau negócio.
"Você sai de um estádio de R$ 400 milhões, que era o que o Corinthians
queria, para um de R$ 800 milhões, R$ 900 milhões, por causa das exigências da
abertura da Copa do Mundo", disse na delação.
Mané Garrincha
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Construção do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília (Foto: Gary Hershorn/Reuters) |
A petição 6.766
diz que houve "acordo de mercado" envolvendo a obra do estádio Mané
Garrincha, em Brasília. Ela se baseia nas delações de João Pacífico
e Ricardo Roth, ex-executivos da Odebrecht.
Nos vídeos da
delação, eles explicaram que foram procurados pela construtora Andrade
Gutierrez, a fim de elaborar uma proposta de cobertura, favorecendo a Andrade.
Segundo
Pacífico, isso acontece quando duas companhias combinam o valor que irão cobrar
pela obra. Desta forma, uma delas acaba beneficiada na licitação. Ele disse que
a Odebrecht não teria interesse na construção da arena em Brasília.
Mais cara entre
os estádios da Copa, a reforma do Mané Garrincha, segundo o governo, custou R$
1,4 bilhão.
O
procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu que o ministro Luiz Fachin,
do Supremo Tribunal Federal, encaminhasse o pedido de investigação à Justiça
Federal do Distrito Federal.
Arena
Pernambuco
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Construção do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília (Foto: Gary Hershorn/Reuters) |
A petição 6.839
aponta que a realização de “ajustes de mercado, fraudes em licitação e
pagamento de propina a diversos agentes políticos e outros” em razão do
contrato da obra da Arena Pernambuco.
Ela se baseia
na delação de João Antônio Pacífico Ferreira. Segundo ele, a Odebrecht combinou
uma “proposta de cobertura” com a Andrade Gutierrez, onde duas empresas
combinam o valor que irão pedir para realizar a obra. No caso, a Andrade
apresentou um valor maior, para favorecer a Odebrecht - em contrapartida ao que
foi feito no estádio Mané Garrincha.
Os custos de
construção da Arena Pernambuco, segundo o governo, foram de R$ 532,6 milhões.
As investigações foram
encaminhadas para a Justiça Federal de Pernambuco.
Arena da Amazônia
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Vista aérea da construção da Arena da Amazônia (Foto: Bruno Kelly/Reuters) |
Com base na
delação do ex-presidente da Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, a
petição 6.709 diz que ele foi procurado por um funcionário da Andrade Gutierrez
que, "pediu que fosse apresentada proposta de cobertura na Arena da
Amazônia".
O documento
aponta que o Silva Júnior aceitou o pedido. O esquema é semelhante ao usado na
Arena Pernambuco e no estádio Mané Garrincha. Segundo a delação do
ex-executivo, a Odebrecht apresentou um valor para a obra superior ao da
Andrade Gutierrez, que se viu em vantagem.
Os custos de
construção da Arena Pernambuco, segundo o governo, foram de R$ 660,5 milhões. O
pedido de investigação foi encaminhado à Justiça Federal do Amazonas.
Arena Castelão
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Reforma do Castelão (Foto: TV Verdes Mares/Reprodução) |
Na petição
6.856, também baseada na delação de Silva Júnior, diz que ele foi procurado por
executivos da Carioca Engenharia para que a Odebrecht "apresentasse
proposta na licitação dirigida à obra de reforma da Arena Castelão".
O documento
cita que "a solicitação tinha por objetivo facilitar a vitória da Carioca
Engenharia". De com o trecho da delação que consta da petição, a Odebrecht
concordou com a combinação, mas, "a Carioca Engenharia acabou, ao final,
não se sagrando vencedora" da licitação.
Os custos da
reforma do Castelão, segundo o governo, foram de R$ 518,6 milhões. O pedido de
investigação foi encaminhado à Justiça Federal do Ceará.
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